A ciência do sono

Todo mundo sabe que dormir bem é importante para o bem-estar. O que não é tão conhecido pela população em geral é que existe muita ciência por trás do simples fato de adormecer. A qualidade do sono influencia diretamente o equilíbrio emocional e físico, o nível de energia para as atividades do dia a dia e a saúde como um todo.

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O adormecer depende de três fatores:

1 – O acúmulo de uma substância chamada adenosina, a partir do gasto energético durante o dia;
2 – O ciclo de produção de hormônios, como a famosa melatonina, que é responsável por induzir e manter o sono;
3 – E a forma como o indivíduo lida com a sensação de sono – p.ex. se a pessoa consegue dormir rápido, ou se fica ansiosa na hora de dormir.

O sono e o crescimento
A dinâmica do sono passa por diversas transformações ao longo do desenvolvimento e amadurecimento do cérebro. A necessidade de horas de sono, por exemplo, reduz conforme envelhecemos. Enquanto uma criança de um ano dorme em média 14 horas ao longo do dia, o adulto dorme de 6 a 8.

Durante o primeiro ano de vida ocorrem mudanças marcantes nas características do sono. Para os recém-nascidos o ritmo do relógio biológico ainda não foi estabelecido, é como se o dia deles durasse 4h ao invés de 24h. Isso explica porque acordam de 2 a 3 vezes durante a madrugada. Por volta do 3º mês de vida o ciclo começa a se estabelecer, com a associação do relaxamento ao escuro e maior quantidade de sono concentrado no período da noite.

As fases do sono
A divisão das fases considera o padrão das ondas cerebrais, os movimentos musculares e os movimentos dos olhos. Dois grandes estágios compõe o sono: REM e não REM (NREM). De modo geral, o sono NREM é mais profundo, o corpo está mais relaxado e é mais difícil despertar. O sono REM acontece com atividade dos músculos e dos olhos mais intensa, é uma fase mais superficial, em que ocorrem os sonhos e é mais fácil despertar.

Ambas acontecem em ciclos. Numa noite de sono com duração de 8h, temos em média 4 ciclos. O adulto começa com o sono NREM e por fim chega ao sono REM. No fim de cada ciclo, que tem duração aproximada de 90 a 120 minutos, ocorre um breve despertar, que usualmente não é lembrado no dia seguinte.

Para os bebês as fases do sono ocorrem de modo diferente. Os ciclos duram menos tempo (em média 60 minutos) e existe maior quantidade de sono REM (o mais leve), por isso os despertares são frequentes nessa faixa etária. Com um ano de vida a arquitetura do sono se assemelha mais à do adulto. Despertares breves após o ciclo do sono (90 a 120 minutos) seguem ocorrendo, mas a criança normalmente volta a dormir sem necessidade de intervenção externa.

Estimular um sono de qualidade é essencial!
A importância de ensinar às crianças bons hábitos e boas associações do sono – aprender a adormecer sem qualquer tipo de estímulo (mamadeira, balanço do carro e etc.) permite que sejam capazes de voltar a dormir sozinhos quando despertarem entre um ciclo e outro na madrugada.

Entender como funciona o processo pode nos ajudar a avaliar nossos próprios padrões e, a partir disso, construir estratégias para promover uma melhor qualidade do sono. Porque dormir bem significa equilíbrio, saúde mental e física – tanto em curto quanto em longo prazo.

Dra. Ana Carolina Macedo

Neurologista infantil