A habilidade da autorregulação

O que é?

A autorregulação é a habilidade de monitorar e modular a emoção, a cognição e o comportamento, para atingir um objetivo e/ou adaptar às demandas cognitivas e sociais para situações específicas (Sroufe, 1995). Na prática significa a capacidade de gerenciar as próprias emoções e comportamentos nas diferentes situações. Para manter esse nível de controle e realizar os ajustes, a criança precisa monitorar as mudanças nos seus sentimentos e nos estímulos do ambiente.

boy wearing pink long-sleeved top

A capacidade de autorregulação aumenta conforme amadurecemos, essa é uma aptidão que também faz parte do desenvolvimento na primeira infância.

É difícil esperarmos que uma criança de 2 anos tenha grande habilidade para regular as suas próprias emoções, por isso as crises de birra e frustração em excesso são mais frequentes nessa fase. Apesar disso, algumas crianças apresentam maior dificuldade com a regulação das próprias emoções e isso pode ser observado de algumas formas:

  • A criança pode ter grande dificuldade para se acalmar sozinha (depois de um evento estressante);
  • A criança pode ter dificuldade para controlar os próprios impulsos;
  • A criança pode ter dificuldade para esperar por algo, demonstrando grande impaciência;
  • A criança pode ter reações muito ruins e intensas quando algo lhe é negado.

Se identificamos que uma pessoa tem dificuldades nesse sentido, devemos buscar compreender as razões e oferecer auxílio. Existem muitas formas de estimular a construção dessa habilidade.

Procurar os padrões

Observar como seu filho reage em diferentes situações para entender melhor seu temperamento.

Como ele lida com mudanças e desafios? Que tipo de pessoas e situações ele gosta ou evita?

Identificar os padrões pode te ajudar a prever como seu filho reagirá em certas situações. Você pode começar a identificar pessoas, lugares e experiências potencialmente desafiadores e ajudá-lo a se preparar para lidar com eles. Você também pode aprender o que o conforta em situações de estresse.

Criar empatia com os sentimentos da criança

Mostrar que você entende o sentimento de tristeza que a interrupção da brincadeira causou. É importante ele entender que “tudo bem sentir-se assim”. Isso ajuda a criança a elaborar e lidar melhor com os próprios sentimentos.

Usar os momentos de comportamento ruim para ensinar

“Eu sei que você está furioso, mas bater no outro não é adequado. Podemos juntos encontrar outras formas de aliviar essa sensação”.

Alinhar nossas expectativas com a personalidade da criança

O pai pode ser super extrovertido e ter facilidades com a comunicação, mas se o filho tem dificuldades nesse sentido é importante enxergar que aquela experiência com os novos amigos pode representar um desafio para ele.

Auxiliar crianças sensíveis através do diálogo

Quando ela estiver prestes a viver uma situação nova, podemos explicar e explorar juntos como será a experiência, dando a sensação de previsibilidade e transmitindo a mensagem de que ela estará em segurança.

Trabalhar a autoconsciência

Ajudar e estimular a criança a olhar para as próprias emoções e sentimentos: “Como estou me sentindo hoje?”, “Como me senti quando o colega se recusou a brincar comigo?”. Essas atitudes fazem com que a criança fique mais familiarizada com o que acontece em seu mundo interno, facilitando a autorregulação.

Permitir que a criança tome pequenas decisões no dia a dia: “o sapato vermelho ou o amarelo?” “Suco ou leite?”. Isso promove a autonomia e a sensação de que ela está no controle.

Usar brincadeiras com trocas de turnos (minha vez/sua vez)

É uma forma de ensinar a criança a lidar com a impulsividade.

Estabelecer rotinas

É uma forma de ajudar a criança a ter previsibilidade – saber quando suas necessidades serão atendidas. Isso aumenta a sensação de segurança.

Atenção:

Quando as dificuldades com a autorregulação estão presentes de forma persistente e trazem prejuízos para a vida da criança e sua família, devemos investigar possíveis condições neurológicas que podem prejudicar o desenvolvimento desta habilidade: distúrbios do processamento sensorial, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade são os principais exemplos.

Dra. Ana Carolina Macedo

Neurologista Infantil