O que é?
A depressão na infância e adolescência é um transtorno psiquiátrico caracterizado por humor deprimido, perda de interesse pelas atividades, alterações no sono, apetite e comportamento, além de prejuízos significativos na qualidade de vida, desenvolvimento emocional e desempenho escolar.
É comum que os sintomas se manifestem de forma diferente do que ocorre nos adultos. Crianças podem não expressar tristeza com clareza, mas sim apresentar irritabilidade, apatia, dificuldades escolares ou queixas físicas.
Estudos estimam que até 2% das crianças e 5 a 8% dos adolescentes podem apresentar quadros depressivos, sendo uma condição ainda subdiagnosticada, em parte pela dificuldade de reconhecer os sinais e pelo estigma relacionado à saúde mental.
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Quais são os sinais?
– Irritabilidade ou tristeza persistente;
– Perda de interesse em atividades antes prazerosas;
– Alterações no apetite e no sono (insônia ou sonolência excessiva);
– Cansaço constante ou falta de energia;
– Queda no rendimento escolar e dificuldades de concentração;
– Dores físicas recorrentes, como cefaleia e dor abdominal sem causa aparente;
– Baixa autoestima e autodepreciação;
– Isolamento social e desinteresse em interações;
– Pensamentos negativos frequentes ou falas sobre morte.
A presença de sintomas intensos e duradouros, que interferem nas relações sociais, escolares ou familiares, exige avaliação imediata por profissional especializado.
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Como o jovem pode manifestar que está sofrendo com a depressão?
Além de sintomas emocionais, é comum que crianças e adolescentes com depressão apresentem sintomas comportamentais ou físicos, como:
• Quedas abruptas no desempenho escolar;
• Rejeição ao convívio com amigos ou familiares;
• Irritabilidade ou agressividade fora do habitual;
• Desmotivação para brincar ou praticar esportes;
• Queixas frequentes de dores sem causa clínica definida;
• Autoagressão ou falas como “ninguém gosta de mim” ou “não quero mais viver”.
Esses sinais não devem ser ignorados. O sofrimento emocional na infância é real e merece acolhimento e tratamento.
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Como é realizado o tratamento?
O tratamento da depressão na infância e adolescência é sempre individualizado, e pode incluir:
• Psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), eficaz na reorganização dos pensamentos e emoções;
• Apoio psicopedagógico e trabalho com a escola para redução de pressões e estímulo ao pertencimento;
• Tratamento medicamentoso, quando indicado, com antidepressivos como os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), que têm eficácia e segurança comprovadas em populações pediátricas;
• Promoção de hábitos saudáveis, como rotina de sono, alimentação adequada, prática de atividade física e redução do tempo de tela;
• Envolvimento da família no cuidado e na escuta ativa.
O suporte contínuo e o vínculo com profissionais de saúde são essenciais para a recuperação.
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Como os pais podem ajudar?
– Buscar avaliação especializada o quanto antes: quanto mais precoce o diagnóstico, melhores os resultados do tratamento;
– Validar os sentimentos do filho: evite julgamentos ou minimizar o sofrimento. Frases como “isso é só drama” ou “isso passa” podem agravar a sensação de isolamento;
– Estabelecer uma rotina segura: horários previsíveis e atividades prazerosas fortalecem o vínculo e a sensação de segurança;
– Acompanhar o comportamento e o desempenho escolar;
– Observar o próprio bem-estar emocional: o ambiente familiar impacta diretamente a saúde mental das crianças e adolescentes. Se necessário, os pais também devem buscar apoio psicológico.
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A depressão infantil é uma condição real, tratável e que merece atenção. Quando acolhidas e tratadas com empatia, crianças e adolescentes têm grandes chances de recuperação e de retomada saudável do desenvolvimento emocional.
Dra. Ana Carolina Macedo
Neurologista infantil